Compondo uma narrativa ficcional apoiada numa extensa pesquisa bibliográfica e em documentos inéditos, Sinval Medina, com O Cavaleiro da Terra de Ninguém, oferece ao leitor um retrato sem retoques da extraordinária figura de Cristóvão Pereira de Abreu, fidalgo nascido em Ponte de Lima, que se tornaria o Rei dos Tropeiros no Sul do Brasil.
Desbravador, chefe militar e homem de negócios das primeiras décadas do século XVIII, esta personagem quase lendária abriu a estrada que permitiu a integração social, política e económica da rica província meridional com as ainda mais ricas capitanias centrais brasileiras, então agitadas pela febre do ouro.
Tecendo uma narrativa que mistura documentos históricos com passagens ficcionais, o romance de Sinval Medina reconstrói a trajectória do fidalgo português que viveu, no Brasil, uma saga que o coloca na galeria dos verdadeiros heróis do seu tempo.
Ao combinar o registo documental com ingredientes da mais pura ficção, Sinval Medina resgata, em O Cavaleiro da Terra de Ninguém, uma figura histórica que, no Brasil, chegou a ter a própria existência posta em causa.
Originário da pequena fidalguia rural, Cristóvão Pereira de Abreu, nascido em Ponte de Lima em 1678, transfere-se muito jovem para o Brasil. Integrado por laços familiares à elite económica do Rio de Janeiro, torna-se “homem de grosso trato”, designação atribuída aos poderosos negociantes locais.
Nessa condição, envolve-se na exportação de couros na Colónia do Sacramento e no lucrativo fluxo do comércio atlântico. Na segunda década do século XVIII, inicia o transporte regular de rebanhos, sobretudo muares, dos pampas sulinos para São Paulo. Na altura, a vasta e rica Terra de Ninguém entre o Rio da Prata e a capitania de Santa Catarina é ainda objecto de disputa entre Portugal e Espanha. Em 1735, utilizando os seus próprios recursos, abre a estrada que vai integrar o Sul ao corpo físico do Brasil. Dois anos depois, no Canal do Rio Grande, lança a pedra angular da fortaleza que marcará a presença oficial da coroa portuguesa na região.
Com a criação da Comandância de Armas do Rio Grande de São Pedro, Cristóvão Pereira de Abreu não se afastará mais das vastidões sulinas, a não ser para conduzir, todos os anos, milhares de animais até à Feira de Sorocaba, em São Paulo, prática que lhe renderá a alcunha de “Rei dos Tropeiros”. A experiência como sertanista e a capacidade de liderança, irão levá-lo ao posto de Coronel de Milícias durante as muitas guerras pela disputa do território riograndense. Já no final da vida, será agraciado com metade das rendas da Alfândega de Curitiba, encarregada de cobrar tributos sobre as tropas em trânsito para São Paulo. Por altura da sua morte em 1750, os negócios do Cavaleiro da Terra de Ninguém estendem-se da Colônia do Sacramento a Londres, passando por São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Portugal.
Ao romancear a trajectória de Cristóvão Pereira de Abreu, Sinval Medina realça a dimensão humana da sua personalidade, desfazendo os equívocos, dúvidas, e exageros que o envolveram após a morte.